Partilhas Serranas
Serras Transmontanas: Muros de Separação
A foto obtida num espaço serrano, com árvores de espécies diversas, bem como
as suas dimensões, provocam efeitos de especial beleza, quando juntas com
outros elementos da natureza, e, no caso presente, com um fundo cinzento, que
é, nada mais nada menos, um espesso nevoeiro.
A temperatura ambiente, no momento da captação desta fotografia, rondaria os
cinco graus centígrados, pela hora do meio da tarde. No entanto, segundo
relatos, naqueles mesmos sítios, da parte da manhã – manhã bem cedo –, a
temperatura andaria pelos entre zero graus centígrados e um negativo. Desse
modo, o contacto entre o ar frio e o nevoeiro provoca a formação de pequenas
gotículas geladas e encostadas aos ramos das árvores e aos arbustos,
originando sobreposições dessas mesmas gotículas, formando, nuns casos, uma
espécie de estalactites, não as resultantes da precipitação de calcite ou
aragonite, pendentes das abóbadas das grutas, mas sim, e tão só, originadas
pelos pingos gelados que se vão sobrepondo, no sentido do chão dos terrenos
florestais; ou então, essas gotículas aglomeram-se em arbustos rasteiros,
criando superfícies brancas parecidas à neve.
Com esta introdução do ambiente nas serras transmontanas, podendo escrever-se
“trasmontanas”, chamo a atenção para a foto apresentada, e o muro que nela
figura – um muro baixo, tosco, uma tanto ou quanto irregular que, nesta altura
do ano, está coberto de musgo, servindo este na quadra natalina, para
ornamentar os presépios de Natal, representando, assim, paisagens naturais,
através de uma cor verde realista, servindo como base ou suporte a todas as
figuras do presépio.
Mas este muro que aqui mostro tem também, ou tinha, uma função especial, hoje
em dia deixado de usar ou construir. Este muro e outros idênticos eram
arquitetados para dividir em parcelas um determinado terreno. Também em terras
de cultivo eram construídos, mas vêem-se muitos sobretudo nas serras,
transmitindo à observação dos mais atentos uma certa arte no construir com
elementos de vários tamanhos – pedras em granito –, que se aconchegam umas às
outras, formando obras graníticas, porque não, quebrando monotonias de árvores
e arbustos.
De facto, a função destes muros era a de dividir terrenos em partes menores,
resultando de decisões familiares, quando acontecia o desenlace do chefe da
família, ocorrendo posteriormente as partilhas entre os familiares
descendentes. Normalmente, em certas zonas, este processo da divisão de
terrenos não era acompanhado de quaisquer registos formais, ficando-se a
partilha apenas por concordância de todos os familiares com direitos à
herança.
Estes muros são, deste modo, testemunhos das histórias de muitas famílias,
imprimindo, simultaneamente, às serras transmontanas traços de beleza
artística, dignos de serem admirados.
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